2 de dez. de 2007

Foder e ir às Compras [Teatro da Politécnica]

Texto de Mark Ravenhill | Tradução de Ana Bigotte Vieira
Encenação de Gonçalo Amorim
Com Carla Maciel, Carloto Cotta, Pedro Gil, Pedro Carmo e Romeu Costa.
Espaço Cénico Rita Abreu | Adereços e Figurinos Ana Limpinho e Maria João Castelo
Sonoplastia Sérgio Milhano | Desenho de Luz José Manuel Rodrigues
Assistência de produção Andreia Carneiro | Direcção de Produção Mafalda Gouveia
Uma co-produção Primeiros Sintomas / CCB
(Mais Informações e fotos)


Teatro «na tua cara» (in your face) - sexo, violência, e esparguete atirado pela ar. A vida humana reduzida (ou simplificada) aos seus elementos darwinianos: sobrevivência e reprodução, que na nossa sociedade consumista, estranhamente, se traduz por dinheiro e sexo. Robbie (Pedro Carmo) procura sexo, mas sem a interferência de relações pessoais, que se podem tornar numa dependência tão potente como uma droga. Gary (Carlotto Cotta), um prostituto adolescente, procura um pai, mas que o domine e viole. Lulu (Carla Maciel), uma atriz instintiva, vende prazer fácil, sejam drogas ou sexo telefónico. Mas Robbie (Romeu Costa) ao deixar-se levar pela atração física e sentimentos de generosidade, exaltados por extasy, oferece todas as pastilhas que deveria ter vendido. Brian (Pedro Gil), que emprega Lulu para vender drogas, surge como o personagem mais ajustado ao código amoral do consumismo, e lembra o sádico deo filme Naked (de Mike Leigh).

Sobre a encenação por Gonçalo Amorim.

Sexo torna-se uma maneira de arranjar dinheiro, A produção impressiona pelo

Um comentário:

:o) disse...

A Associação Portuguesa de Críticos de Teatro atribuiu o Prémio da
Crítica, relativo ao ano de 2007, ex-aequo ao espectáculo A tragédia
de Júlio César, uma co-produção do Teatro da Cornucópia e do São Luiz
Teatro Municipal, e ao espectáculo Foder e ir às compras, uma
co-produção da companhia Primeiros Sintomas e do Centro Cultural de
Belém.

O júri foi constituído por Ana Pais, Constança Carvalho Homem, João
Carneiro, Maria Helena Serôdio e Rui Pina Coelho.

O mesmo júri decidiu ainda atribuir três Menções Especiais,
respectivamente, à actriz Emília Silvestre, à iniciativa Panos da
Culturgest, e aos Livros Cotovia.

A cerimónia da entrega destes prémios realiza-se no próximo dia 10 de
Março (segunda-feira), no Jardim de Inverno do Teatro Municipal São
Luiz (Lisboa), às 18h30, sendo livre a entrada.

Acrescentamos, a seguir, as justificações críticas destas distinções.

Espectáculo Foder e ir às compras

O imaginário decadente, violento e escatológico de peças como Foder e
ir às Compras, de Mark Ravenhill, não pode causar hoje o mesmo efeito
provocatório como na época da sua estreia. Abundantemente exposto a
várias produções deste "teatro de choque" (conhecido pela famosa
expressão "in-yer-face theatre"), hoje o espectador encontra com
facilidade mecanismos e manobras discursivas para lhe responder.
Então, por que razão se levará à cena um texto cuja função central não
poderá ser cumprida? A encenação de Foder e ir às compras, de Gonçalo
Amorim, oferece-nos motivos de peso, que levaram o júri nomeado pela
APCT a destacá-lo com o Prémio da Crítica 2007.

Através de um olhar refrescante sobre o texto, o trágico quadro de
Foder e ir às compras surge-nos com uma pujança arrebatadora, a um
tempo turbulenta e magnetizante. Ambivalente na forma como manipula um
jogo de atracção e repulsa entre os actores entre si e entre o palco e
a plateia, o espectáculo assenta numa leitura dramatúrgica
surpreendente e bem fundamentada, veiculada por uma tradução fluída e
em perfeita sintonia com o registo oral, o que tanto gera contornos
sombrios quanto apela a uma ironia empática.

Revelando uma profunda e rara reflexão, Foder e ir às compras
demonstra igualmente uma inteligente e cativante articulação com as
matérias da cena, em particular, relativamente ao deslumbrante
trabalho de todo o elenco constituido por Carla Maciel, Carloto Cotta,
Pedro Carmo, Pedro Gil e Romeu Costa. A harmonia, intensidade e
generosidade das interpretações superam qualitativamente qualquer
expectativa no que toca ao domínio do corpo, da palavra, da voz e da
capacidade de escuta dos movimentos de conjunto. Estamos, por isso,
perante uma invulgar contribuição para o panorama teatral português –
uma prova de exigência, trabalho e prazer.



Associação Portuguesa de Críticos de Teatro

Maria Helena Serôdio

Presidente da Direcção